domingo, julho 04, 2004

Para se chegar ao céu, temos que dar uma passadinha no pulgatório antes... Ou em português claro, passar um puta perrengue !

Dojão

Sábadão, dia 26 de junho, Show do Trash Pour 4 em Santo Antônio do Pinhal, no Spa Musical Jardim Suspenso da Babilônia. Data esperada, pois o lugar é maravilhoso, uma cave bem íntima, sob um estúdio gigantesco, todo envidraçado com uma vista para a serra.
O dono de um lugar como esse não haveria de ser diferente. Um pessoa fantástica, aliás duas pessoas fantásticas, João e Silvia, que conheci há dois anos atrás, quando havia ido dar uma canja em seu restaurante.
Pizzas feitas com muito carinho, um ambiente à luz de velas, aquecido com o calor de uma lareira, bons vinhos e boa música. Vindo de mim, até parece clichê. Pô, o cara só fala de vinho e comida. Mas é que neste caso, temos que fazer uma ressalva.
Mas, no sábado ao meio dia, toda esta atmosfera mágica ainda não passava de um sonho. Estávamos cheio de energia, e ávidos para ver o verde da montanha, e viver toda aquela bateria de prazeres taurinos. Eis que meu telefone toca, e fico sabendo que o carro das meninas tinha quebrado na Dutra. Por sorte, ou por azar, eu ainda não tinha passado por aquele trecho de estrada, e me dispus a ajudá-las, afinal somos uma banda unida.
O carro, um Dodge Polara 1976 creme, estava encostado perto de um pedágio. As duas, sentadas no capô. Uma cena meio Thelma e Louise. Carros sempre param quando acabam de sair de uma revisão no mecânico. Por que será?
Enfim, contatamos um guincho que chegou algumas horas depois. Tempo suficiente para comermos um pacote de salgadinho japonês, que consistia de pequenas ervilhas crocantes temperadas com Wassabi, um condimento verde a base de raiz forte. Isso mesmo. Gastrite na certa.
Fomos gastritando até o segundo mecânico da história, seu Barbosa. Um crioulo forte, com braços tenros, tronco robusto, com um visual meio cowboy meio mecânico. Camisa de mecânico, chapéu de cowboy, calça jeans, cinto de couro preto, celular com capa de couro preta, sapato mocacin, etc. Sim, ele era mais pochete de couro! Devia ter uns 40 anos. Ao menos, aparentemente. Não é que o figura tinha 75 anos de idade.
O dojão já tinha ido para lona, e nos restava estas duas opções: alugar um carro, ou ir de taxi. Alugar carro, com certeza! Com este seu Barbosa andamos pelo menos umas quatro horas dentre as cidades de Jacareí e São José dos Campos, a procura de uma locadora de carros. Não sabia que isso era tão difícil fora de São Paulo.
Muitas portas fechadas, má_vontade.com e tudo mais que se tem direito na hora do perrengue. Perrengue atrai perrengue, assim como pobreza atrai pobreza. Persistimos firmemente, correndo pelas ruas sombrias da periferia de Jacareí, a Natália e a Mariah no kadetão prata do seu Barbosa, e eu e a Paloma no meu Uno guerreiro com escapamento furado.
Meu ouvido já não escutava mais nada direito, tamanho era o barulho do meu carro. Mais parecia um djeridoo amplificado num sub-woofer, ou mesmo um aspirador de pó entupido. E o seu Barbosa descendo a lenha no seu kadetão. Uma típica situação de filme B. No mínimo.
Achamos uma locadora em São josé às 21:30 hs, numa região industrial da cidade. Parecia um sonho. Já estávamos achando que nada mais salvaria aquele dia, e que a única opção fosse voltar para casa de guincho. Quase foi assim.
Para variar, tivemos problemas na transação burocrática da locação do carro. Cartão que não passa, documento estrangeiro que não é aceito, etc. Se fosse fácil, não seria verdadeiro. Nessas alturas, o dono do bar já havia me telefonado algumas vezes para saber se iríamos chegar de fato em Santo Antônio. No final, foi ele quem convenceu o cara da locadora a fechar o negócio conosco.
Toda história tem seu final feliz. E assim seguimos para o paraíso.

Pizzas no forno a lenha e tudo mais que se tem direito

Demos a primeira entrada lá pelas 22:00 horas, para algumas poucas e boas pessoas. Tínhamos acabado de chegar de uma viagem ao centro da Terra.
Nos sentíamos literalmente no paraíso. Iluminados com luzes coloridas, fazendo o que mais gostamos de fazer, sabendo que algumas pizzas nos esperavam, tomando um cálice de vinho tinto Côtes du Rhones e muito bem acompanhados.
A noite seguiu adiante neste ritmo. Um pouco de música, amigos, pizzas, vinhos, vinhos, vinhos, etc. Todos bêbados e felizes cantando o refrão "Take my breath away" - tema do filme Top Gun. Era como se nada de ruim tivesse acontecido naquele dia. No final, teve até canja dos "dois públicos" que estavam presentes.

Vista para o mar de montanhas

Acordamos com a luz do dia ensolarado que nos esperava na cachoeira. Dormimos no estúdio, todos juntos, meio festa do pijama. Mas não era um simples estúdio. Era o estúdio envidraçado que fica em cima do bar.
Anoite não dá para se ter idéia da vista daquelas janelas enormes que circundam o estúdio. Mas ao amanhecer, apenas levantando um pouco a cabeça do travesseiro você dá de cara com a serra de Santo Antônio do Pinhal e de São Bento do Sapucaí, um verdadeiro mar de montanhas.
E não pára por aí. Comemos um café da manhã caseiro feito pelos próprios João e Silvia, sob os raios suaves do sol de inverno da montanha. Lá do restaurante, que fica no topo do morro, podíamos ver os demais chalés no meio das montanhas onde estava hospedado o nosso fiel público.
Após uma jam session básica temperada com uma ervinha da boa, seguimos para cachoeira. Só a estrada já valeu o passeio. Casinhas de pau-a-pique com cercadinhos de madeira velha, fazendinhas com algumas cabeças de gado, alguns moinhos, árvores solitárias num campo gramado. Cenário de filme rodado no sul da Itália.
A cachoeira não podia ser diferente. Seguimos por uma hora de trilha no meio do mato, dentro da propriedade de um dos "públicos". Uma boa caminhada com trechos de floresta fechada, subidas ao longo do curso d'água, passagem por arame farpado (básico!) e até travessia por uma estrada. Pessoas que não são muito de trilha não enfrentaram problemas, assim como os que gostam conseguiram ter um aperitivo. Deu para renovar o sangue.
A região é muito rica em recursos hídricos, o que faz com que seja costurada por várias cachoeiras e rios. Para a nossa sorte, ficamos amigos do dono da fazenda que contem a maior cachoeira da região, com vários pontos de queda d'água e piscinas naturais. Água gelada no lombo, e tudo que é pepino vai embora.
De baterias recarregadas, voltamos para a cidade para a última grande cartada: trutas com amêndoas, seguidos de doces caseiros no restaurante Catavento.
Um restô simples e tranquilo. Uma atmosfera familiar bem aconchegante do interior. Pratos bem servidos, temperos leves e atendimento excelente. Foi um verdadeiro banguete, com cumbucas de feijão passadas de mão em mão, trutas com amêndoas, trutas com pinhão, picanha assada com alho, uma efusão de aromas comestíveis. Se passarem por lá, bom apetite!


Onde está este paraíso?
Bom, eu te explico. Fica em Santo Antônio do Pinhal. Pegar Dutra ou Carvalho Pinto. Se for pela Carvalho (recomendado apesar do preço do pedágio) seguir sempre em frente sentido Campos do Jordão. Na serra de Campos (rod. Floriano Peixoto), haverá um entroncamento, com placas indicando a estrada para Santo Antônio do Pinhal. É fácil de achar. Uma grande subida na direita para quem está em sentido Campos de Jordão. Depois é só seguir placas.
Pela Dutra é só seguir até a saída indicando Campos do Jordão, quando cruza a rodovia Carvalho Pinto. Depois segue o mesmo caminho.


Jardim Suspenso da Babilônia
Rodovia SP-46 / km165
www.spamusical.com
(0xx12) 3666-1487