Na Trilha da Moda
Na Trilha da Moda
Os desfiles de moda estão cada vez mais parecidos com os eventos de arte e entretenimento. Na realidade, um híbrido neste sentido.
O próprio espaço é criado para a coexistência destes universos antes distintos. Não se pode pensar mais numa concepção de desfile onde as artes visuais, a música, as artes do corpo e o consumo não estejam integrados.
A escolha das trilhas também passa por uma avaliação no mesmo sentido. As músicas devem agradar o público, cumprir seu papel de ambientação e diálogo com os desfiles, e ainda tornar a passarela não só um espaço de criação e conceitos, mas também de entretenimento.
O que pode acarretar, por exemplo, em algumas falsas verdades sobre o que deva ser uma boa trilha sonora. “Tem até uma referência, a Constanza Pascolato. Todo mundo se baseia nela. Quando o desfile tá animado, ela bate o pé...” brinca Paulo Beto, ou Anvil FX, que tem um disco lançado pelo selo MotorHead, e é integrante de projetos musicais como Silver Blood (anos 90) e Freak Plasma.
Isto reflete no fato de que a grande maioria das trilhas tenham, em algum momento, elementos da música eletrônica. Daí a presença marcante de produtores e Djs como o próprio Anvil FX, Mad Zoo e Felipe Venâncio, entre outros. Conseqüência que poderia ser inteiramente benéfica, se não fossem os modismos aplicados por muitos trilheiros e estilistas na passarela.
Mesmo assim, é perceptível em alguns desfiles, uma relação mais apurada e integrada, elevando para um outro nível, a qualidade e quantidade de signos criados por esta intersecção. “Acredito que a trilha seja a responsável pela criação da atmosfera e pela contextualização. Em outras palavras, um ambiente envolvente e, até certo ponto, explicativo. Além disso, o ritmo das músicas tem papel fundamental no resultado final”, explica Max Blum, que já fez trilhas para marcas como Colcci, V.Rom e Ellus.
O último desfile de Jum Nakao, no São Paulo Fashion Week, é um exemplo perfeito desta relação que me refiro acima. Sempre apostando numa estética inovadora, Jum Nakao e Paulo Beto trazem, ao público, uma proposta de ruptura das ditas tendências. “Os meus trabalhos são sempre os mais bizarros, e as pessoas me chamam pois querem algo realmente diferente”, conta Paulo Beto. “O Jum é um cara ligado à densidade e profundidade do trabalho, e é muito aberto a referências das mais diversas. Ele não está preso no que está mais em voga na música”, continua.
AMNI Hot Spot
Nesta última edição do AMNI Hot Spot, alguns trilheiros apostaram em novas direções, o que chamou bastante a atenção.
Paulo Beto e Samuel Cirnansck trouxeram uma referência completamente diferente de todas as propostas apresentadas. O ambiente glamouroso dos anos 20 e 30, deram espaço para uma música menos voltada para o pulso de uma bate-estaca. “Se o estilista está fazendo um trabalho que está ligado com essa poética, não tem sentido uma trilha com batida eletrônica”, justifica Paulo.
Na passarela, além das estonteantes modelos com suas curvas mais abrasileiradas¸ uma cantora das antigas, a sambista Dona Inah, conduziu, com muita classe, o desfile com sua voz melodiosa. “É uma preferência estética, eu adoro tudo que é choro, valsa ou samba... tudo que é antigo tem um refinamento incrível, é uma forma também de mostrar, para nós mesmos, que temos uma coisa bacana, temos cantores bons e temos uma idéia de reinventar o que é nosso, sempre”, conta Samuel.
Montagens e bricolage também tiveram seu espaço. As trilhas de Max Blum para a marca Ïf, e de Daniella Gesser para Érika Ikezili atingiram uma relação conceitual singular. “Busquei a transformação do clássico em algo novo, porém, não óbvio. Assim, como o trabalho delas, tentei inserir elementos modernos de edição, reestruturando canções antigas”, explica Max Blum, que usou trechos de canções de Edith Piaf e Dave Brubeck.O Dragão de Érika Ikezili também flertou com esta atmosfera fragmentada. “O dragão é um animal imaginário que tem todas as melhores características de todos os animais da natureza. Então, o que eu fiz nesta coleção, foi pegar construções de coleções passadas e transformar todas elas, de repente, numa única peça”, filosofa Érika.
Conceito que foi bem expresso na música de Daniella Gesser, que se baseou em livros sobre mitologia oriental. “Quando a Érika me disse sobre a orelha do dragão, comecei a ler alguns contos mitológicos sobre eles, e num deles dizia que os camponeses sabiam onde estava o dragão por um som que ele fazia, e que lembrava um sino... Daí a história se ligou com os guizos, e conforme eu lia, eu pensava nas peças e imaginava um som”, explica Daniella.
Em ambos os casos, as criações das estilistas foram reforçadas pelos loops e remixagens que traziam a fragmentação e a não-lineraridade como opções estéticas. Estas muito aplicadas nos diversos gêneros da música eletrônica, mas muitas vezes sem clareza conceitual. A experimentação e a diversidade de referências sonoras são, sem dúvida, grandes aliados à originalidade e ao bom gosto.
E para terminar, uma frase que traduz toda esta relação entre música e moda do grande Paulo Beto: “O hype é o inimigo do ser humano moderno.”
Artigo publicado na minha coluna mensal "Imagens Sonoras 01" do Beatz Magazine On-Line
1 Comments:
Sou 1 xtudante de Eng Informatica e escolhi como projecto da cadeira de Gestao de projectos um desfile de moda.Queria q m desse 1 relação do que é feito para que eu fizesse o gerenciamento correcto.
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