sexta-feira, julho 06, 2007

Nota Fiscal: Já comprou a sua hoje?


Manchete de jornal: Final Feliz de Sequestro na Grande São Paulo.


Depois de 8 dias de cativeiro, a sra. Nota Fiscal (2 meses atrasada) é entregue a Agência de Inteligência do Governo Federal (GINGA) com um misterioso bilhete: da próxima vez, eu venho acompanhada de um pedaçode bolo.


Os técnicos da polícia científica acreditam se tratar de mais uma dasameaças non-sense do Clã das Adegas da Viradouro (Escola de SambaTerrorista Nipo-Palestina) que vem espalhando terror com suas malditas batucadas extraídas de rituais satânicos em ilhas do Pacífico. Eles ainda especulam envolvimento da quadrilha com os shows do bonde dorolê, do Balé Quebra Nozes & Tati Quebra Barraco, Dj Malboro Light &Malboro Vermelhão e , é claro, Little Super Star e Weng Weng ***.


*** confira suas performances criminosas no you tube






O resgate foi pago pela Advogada da família Fiscal, Dra. P. S. S., eas negociações foram mediadas pela Agente Secreta S. R. S. Nenhumadelas quiz declarar seu nome.


Da Redação, Dudu Tsuda

quinta-feira, julho 05, 2007

Ruído 5.1 trata consumismo como um vírus anestesiante

Por Helena Katz - Publicado no Estadão 04/07/2007

Dramaturgia de Adriana Grecchi e do Núcleo Artérias atinge agora outro patamar
A metáfora é boa. Colocando no título de seu novo trabalho um dos nomes técnicos do surround sound (5.1) - o som que envolve o ouvinte, por ser distribuído por todo o ambiente -, o Núcleo Artérias, dirigido por Adriana Grecchi, indica que é dessa situação de estarmos envolvidos que vai tratar. No caso, imersos na tempestade de apelos consumistas que pautam os tempos de hoje. O descartável como uma das características centrais da situação que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama de 'modernidade líquida' (2001). Ele descreve esse mundo onde vivemos como o lugar onde nada é feito para durar muito. Não apenas os objetos, as roupas, mas também as relações afetivas, e o próprio corpo - tudo surge para ser substituído por algo que é tido como equivalente na temporada seguinte.

O assédio desse modo de viver se dá de formas tão variadas, que não mais somos capazes de identificá-las. A importância de Ruído 5.1 começa justamente aí, ao fazer dessa situação tão relevante a sua questão. Propõe uma reflexão sobre qual seria o ruído capaz de quebrar a cadeia de freqüências na qual estamos mergulhados, a ponto de nem mais percebermos o que está em curso.

Ruído 5.1 acerta ao tratar o consumismo como um vírus de poder anestesiante. Os principais ambientes visitados são aqueles onde o corpo-coisa fica mais visível: a publicidade e a moda, e neles aborda os tratamentos que são dados a temas variados, da sexualidade à competição.

Tudo começa com o elenco vestido de branco, no que parece, à primeira vista, um figurino típico de dança contemporânea. Só mais adiante, quando todos vestem uma calça jeans - um dos princiais emblemas da relação roupa-situação social - é que somos capazes de reler o primeiro figurino como roupa íntima. Detalhe importante a ser destacado: o figurino não é somente dos quatro dançarinos (Eros Valério, Lua Tatit, Ricardo Rodrigues e Tatiana Melitello), mas também dos responsáveis pelas excelentes trilha sonora (Dudu Tsuda) e videocriação (Rodrigo Gontijo). Todos estão em cena todo o tempo, formando um coletivo integrado, no qual as intervenções em vídeo e as sonoras também discutem, nos seus suportes específicos, as mesmas questões que se passam no corpo.

Oportuno, Ruído 5.1 se constitui como um risco para quem dele participa. Como fazer o mesmo corpo que foi treinado a oferecer as suas habilidades na forma de um produto para deliciar a platéia, ser capaz de uma atuação capaz de criticar exatamente tal hábito? Afinal, estamos todos acostumados a entender que a compra do ingresso representa a compra do direto à satisfação. Pago o ingresso e o artista deve me entregar, nesse caso, uma dança para ser consumida sem problema.

A dramaturgia que Adriana Grecchi e o Núcleo Artérias vêm desenvolvendo atinge agora outro patamar. Além de uma ligação mais fluida entre as cenas, o corpo ganhou uma proeminência muito bem-vinda. Mais que a própria movimentação, é o jeito como ela é mostrada que conta. Tarefa das mais difíceis, pois, a todo momento, a crítica ao consumismo corre o risco de se transformar no reforço desse mesmo consumismo. O uso dos objetos também se transformou. Em alguns momentos, os corpos e as caixas parecem se equivaler: corpos lidam com os outros corpos como se eles também fossem objetos-caixas. Quando isso se dá, evidencia os outros momentos, ainda frágeis no modo de distinguir crítica e endosso do consumismo.

Trata-se de uma proposta que não se esgota somente nesta versão atual, sendo rica e instigante o suficiente para se desdobrar em outras obras. Afinal, consumismo e 'vida líquida' são assuntos de tal complexidade que estimulam e necessitam de muitas outras abordagens.