sexta-feira, março 27, 2009

Elementar.

fui na minha mãe hoje anoite buscar abrigo e colo de orfeu já esquentado. no que vou me deitar após algumas ótimas horas alienantes de tv a cabo, heis que descubro um odor estranho na cama. A icas, a dashhound frenética à la Animaniacs, com olhar de louca, mais ansiosa que eu, sem vergonha, por motivo de rebeldia de causa desconhecida me presenteou com um xixi, nesta incrível e fria noite depressiva de sexta feira. Só pq é ela mesmo... e ainda veio com aquela cara lavada, me perguntando em pensamentos garfieldianos: estou surpresa com sua repentina partida, caro watson... quem fui eu que mijou na sua cama?

cruzo às 2 da manhã a cidade do morumbi para minha solitária residência ao som do meu queridíssimo amigo, Serjão.

pode?

só bebericando uma tacinha de poire para poder se entregar ao sono dos convalidos.

terça-feira, junho 03, 2008

Dias remotos num controle fora de série. "Zapping".

Se fosse definir esta viagem pelo Vale do Douro em uma palavra.

Chegamos primeiro em Porto de comboio (o nosso trem). Uma figura incrível nos recebeu: com minhas experiências européias com paraenses de Belém, não pensei que poderia ser diferente. Um cheiro peculiar no seu apartamento nos distanciava do clássico aroma cigarrento e meio gorduroso da maioria dos espaços indoors na Europa: cheirinho do Pará.

Como se não bastasse tamanha hospitalidade, nosso amigo Osvaldo morava ao lado da Casa da Música, uma espécie de figura geométrica tridimensional e assimétrica no meio de uma praça vazia, contrapondo à arquitetura dos prédiozinhos europeus defaut. Uma instalação interessantíssima propunha uma objeto musical compartilhado por 6 computadores espalhados dentro das entranhas do edifício. Cada computador regia um instrumento numa interface game retrô com bolinhas que produziam sons de forma aleatória ao tocar nas paredes. O barato é que não dava para sacar de prima que as outras bolinhas q vc não controlava eram controladas por outras pessoas em outros computadores. Morou malandro?

Seguindo dicas de um amigo lomográfico, fui direto ao parque/museu Serralves. Um acervo incrível enriquecido com suas mostras temporárias sobre capa de discos de vinil e outra sobre desenhos do acervo do MOMA em NY. Um almoço sobre uma esplanada ensolarada, e uma tarde horizontal no parque à la Versailles mas com um toque mais contemporâneo. E muito mais informal: as pessoas podiam deitar-se na grama e nas muretas das fontes e vias de água!

De carro, viajamos pelo tal Vale do Douro, a lendária rota do vinho do Porto. Como toda lendária rota disso ou daquilo, não se faz vinho do Porto nas quintas desta estrada, e mais, não há mais rota alguma. Turismo medieval com certeza. Um bucolismo Bertolucciano por dentre as pequenas ruas de pedra das vilas, a espiar as miúdas com suas pernocas ao sol tímido da primavera e a velhinhas portuguesas mezzo rabugentas mezzo chuchumbas a varrer suas portas.

Um brinde ao vinho do Porto!

D

segunda-feira, maio 26, 2008

Day After e a ansiedade

Segunda-feira de manhã nebulosa e fria.

Todos foram para Praia, menos eu. Acordei com um humor levemente mais sombrio. Praia é para aqueles demasiadamente felizes. Estou feliz, beirando nota 4, logo me cabe mais um almoço reflexivo, bebendo perrier e observando os portugueses do bairro pelos vidros do café.

O Show da Lesboa foi o máximo! Repleto, dentro de uma bolha nas margens do Tejo servido com uma incrível mistura de whisky e água com gás Pedra Salgada. É uma água naturalmente salgada daqui de Portugal, que acrescenta uma suavidade indescritível ao drink. Fiche!

Medievais por medievais, passamos a noite enchendo a cara, observando aquelas águas inquietas com o frio e o vento, e pensando: como alguém em sã consciencia sai navegando por aí num caiaque gigante sem uma porra de GPS ou um celular!? Nem que seja para dizer: me fodi!

O filé mignon ficou para a volta da festa. Ou ao menos o óleo que usaram para fritá-lo. Voltamos para casa numa van movida a óleo de cozinha! O figura baixinho e carismático morava na van dele, e em tempos de bio combustível, ele alegava que ja tinha se adiantado no assunto: galões de óleo de cozinha conviviam com uma montueira de roupas e tralhas. Pastéis de Belém só na semana que vem.

Para encerrar, vamos aos eventos culturais. Ontem vi uma vídeo performance chamada Bonanza de Berlin, um artista belga que investiga a dinamica social de cidades das mais diversas. Bonanza é uma cidade de 5 habitantes. Falam de si, para si, e brigam como galos em rodas balinesas. Natureza humana apresentada com 5 telas em linha sob uma maquete da cidade. Incrível. O melhor de tudo: vão para o Brasil em novembro!

Por falar em vídeo... Ficou pronto o video-teaser da minha instalação que está exposta no SESC Pompéia até o dia 22 de junho.

Key-words: moda, audio doc, contracultura.

http://www.youtube.com/watch?v=1U1a34tk4Is


Sigo o resto dia em exposições de arte contemporânea. Mando notícias assim que viver mais alguma bizarrice mal paga, ingrata e com muito bigode.

Beijo

Músicas no além mar: Shows do Trash pour 4 em Portugal

Queridos navegantes,

Venho hoje colocar em pauta nossos próximos shows aqui no além mar. Visto que tenho muito amigos me escrevendo destas bandas, vou passar nossa agenda daqui de Lisboa.

24/05 - Lesboa Party / Lisboa

www.lesboa.blogspot.com

28/05 - Braço de Prata / Lisboa

http://www.bracodeprata.org/

04/06 - Teatro de Braga - Braga

06/06 - Music Box - Lisboa

http://www.musicboxlisboa.com/site/

Lembrando que agora tenho um chapéu de verão (muito foda hein cara, tu é foda mesmo!) , comprarei uma bengala amanhã e ontem fui num concerto de música contemporânea incrível, e de quebra conheci um dos compositores e ganhei um disco!

Pra os amantes de arte contemporânea, o compositor se inspirou na obra Rotorelief de Duchamp, e transpôs o loop optico pra sua música na forma de glissandos das cordas e efeitos de portamento com os metais. O encarte do disco é uma lata com um livrinho dentro contendo fotos e detlhes da gravação. Bixo, valvulado!

No mais, sigo nesta vida difícil de bacalhau, vinhos, chapéu novo, elétricos e este sotaquinho espremidinho...

bijos saudosos,

até o próximo boletim,

D

O que se faz depois de uma turne?

Se comemora?

dorme?

entra no primeiro cyber café?

Os aeroportos já são todos iguais, imagina quando você vai a 3 deles num espaço de 4 dias. Saímos de Lisboa no domingo. 1o aeroporto.

Chegamos em Nice para tocar em Cannes, isso, no Festival de Cannes, ou Miami do velho do mundo com levíssimas pitadas de Paris. 2o aeroporto.

Tocamos na segunda anoite. A festa, que seguiu após meus últimos relatos sobre esta Terra Rendonda em que vivemos, foi incrível. De frente para o Mar Mediterrâneo, num bar muito interessante.

Tudo um pouco blasé tupiniquim, mas isto faz parte. Senão não é uma legítima festa brasileira em Cannes!

Mal dormimos e partimos de Nice para Londres. 3o aeroporto.

Chegamos, fomos de van (a minha boa e velha companheira de guerra no interior brabo de São Paulo - vale lembrar que já fui até Dracena em 9 horas de pura mediatação NirVANa) até a casa de show para o que? o que?

Quem dá mais?

O motivo pelo qual nós músicos ganhamos cachê.

O motivo pelo qual muitos já mataram por muito menos.

Fomos, nada mais, nada menos, passar o som!

Para os sortudos que nunca experimentaram esta verdadeira iguaria do mundo da música, passar som o consiste em "testar" a aparelhagem de som da casa antes do show. Mas não é só testar não... antes fosse. Fica um cara gritando no microfone palavras de desordem como: SOM! SOM! EI É! EI É! TESTANDO! Isto pode durar horas, dependendo do diâmetro da lâmpada que se está a girar naquela ocasião. No Brasil, as lâmpadas chegam a ter de 1km a 10km de diâmetro. Isso, estamos falando das de Natal. Então, veja bem...

Aqui na Europa, eles sabem bem o que fazem com as lâmpadas. Nada muito exaustivo por sinal. Mas ainda assim estamos passando o som, e temos todo e total direito de ficar reclamando (mesmo que em silêncio sob uma máscara de sorriso amarelo).

Acordei hoje em Londres, e sigo sonolento em Lisboa vos escrevendo este boletim. Até o dia 9 de junho, quando volto a Terra Brasilis, outros shows estão por vir. Aguardem contato!

bj,

D

Há caracóis?

Queridos ouvintes deste teclado francofonico...

Escrevo de Cannes neste momento para relatar meu primeiro diario a bordo desta embarcaçao sem vela, sem acento e com as letras trocadas.

Pietons Attendez, e o genio escutou e fez um pedido ser realizado: de volta à França!

Depois de incriveis anedotas na terra do pastel de belém e do "espera um bocadinho...", seguimos viagem para esta tétrica Miami no velho mundo, repleta de cartazes e crachas, onde vc realmente realiza que pobre é voce, e que o problema é so seu.

Vitrines de Dior e DG de frente a praia refletem a multidao de turistas perdidos a olhar seus preços exorbitantes. E nos, brasileiros, cabia apenas aquele comentario mental: Oscar Freire nao passa de uma versao tupiniquim desta m... fruto de uma porra de mentalidade de colonizados!

Mas como aqui apesar de tudo é a ainda a França, nao deixamos de nos desfrutar de um almoço com saladas, salmon fumé, crème brulé e um bom vinho. Todo mundo tem seu lado cafona-chic, e devo confessar que isto é muito saudavel!

Nada parecido às ladeiras estreitas do bairro alto em Lisboa, onde foi estabelecida a nossa sede. Moramos ao fim de uma escadaria estreita de madeira dentro de um edificio antiquissimo, sobre uma legiao de bares e lojas fish ( como eles diwem ca...).

Numa noite, ouvi uma confissao muito peculiar. Com a garganta espremida e o sotaque apertado que lhe sao caracteristicos, um luso-desapontado desaba em lagrimas para sua mae: estou a sofrer... Doi muito... filha da puuu... Interpretei como uma legitima desilusao de amor, com esta melancolia tragicomica portuguesa.

Bondinho, lojicas, mojicas, mojitos, bacalhau e até uma camera de video foram parte desta primeira semana lisboeta. Logo mais, quando sair da era jurassica da internet da Europa, posto uns belos e freaks you tubes.

Fico no aguardo de vossas garrafas e sinais de fumaça...

Beijos Apertadinhos...

Eduardo do Sem-Tejo

Descobrindo Portugal

Queridos amigos, amigas, colaboradores e mojicas!

Ao contrário do que foi feito em 1492, estou partindo da América para Lisboa!

Vôo (e não navego) nesta próxima terça dia 13 de maio e volto no dia 09 de junho.

Meu telefone de células (aka celular) será desligado por este período, mas minhas conexões telemáticas na internet estarão antenadíssimas!

No além mar, notícias boas são super bem vindas!!!

Email: dudu.tsuda@gmail.com
MSN: medievaleusou@hotmail.com
Skype: medievaleusou
Orkut: Old Boy
Myspace: www.myspace.com/dudutsuda
Fumaça: utilize fumaça lilás, pois é uma cor nova era.
Garrafas: de preferência as de Gin (com um golinho pra molhar a garganta) e as que já vem com Gênio dentro, com um crédito de pelo menos 2 pedidos.

Aproveito para dizer que uma parte de mim fica no Brasil. E fica especificamente no SESC Pompéia, na exposição de contracultura "Vida Louca, Vida Intensa", na forma de instalação audiovisual interativa de moda: "A Grife da Contracultura".

A exposição reune também uma mostra de filmes (ver site do sesc) além de shows e outras instalações, e fica até o dia 15 de junho. Be our guest!

Beijos Saudosos de Vinho do Porto,

D

terça-feira, abril 22, 2008

Vestir Contemporâneo – A Grife da Contracultura


O evento “Vida Louca, Vida Intensa – Uma Viagem Pela Contracultura” criado pelo SESC Pompéia, com curadoria de Eduardo Beu, recebe a vídeo-instalação “Vestir Contemporâneo – A grife da contracultura” que discute a identidade visual urbana. Um desfile interativo que desperta os jogos sociais de aproximação e repulsa, pertencimento e exclusão, através de um simples olhar. Ver e ser visto são ações simultâneas neste processo, lidando com as motivações pelas quais uma pessoa escolhe uma roupa no universo fragmentado da moda contemporânea.

O projeto consiste de uma projeção de duas camadas. Na inferior, vídeos que remetem aos movimentos estudantis das décadas de 60 e 70. Sobre os vídeos, um ensaio fotográfico é projetado no momento em que o espectador entra neste espaço e interage com a instalação. Uma seqüência de corpos, fotos de pessoas captadas nas ruas de São Paulo, que convida o interator a vivenciar uma outra persona. Paralelo a esta seqüência de imagens, o desfile é contextualizado por um áudio documentário composto de depoimentos sobre moda contemporânea e contracultura.

Vestir antes de tudo é comunicar. Experimentar. Viver situações sociais, reviver memórias afetivas, passear pelo universo lúdico.

Equipe técnica:

Concepção e Direção Geral: Dudu Tsuda

Áudio Documentário e Trilha Sonora: Dudu Tsuda

Direção de Arte: Luciana Cottini

Fotografia e Vídeo: Marc Jean Dourdin

Autoração, Programação de Software e Programação Visual: Jean Habbib

Onde:

Sesc Pompéia - área de Convivência

rua Clélia, 93 - Pompéia.

terça a sábado, das 10 às 21h. Domingos e feriados, das 10h às 20h.

telefone: 11 3871-7700 / e-mail: email@pompeia.sescsp.org.br

Quando:

inauguração do evento dia 15 de abril ás 20h.

até 18 de junho.

Mais informações para a imprensa

Acervo Comunicação

Ebert Biasioli

ebert@acervocomunicacao.com.br

11 30712123 – 97921537

sexta-feira, setembro 21, 2007

Eu analiso.

Minha próxima instalação será uma análise. Pelo mero prazer retórico e prolíxo que isto gera. Uma palavra que incita um pensamento, e uma conclusão que incita uma questão. Poderia passar a minha vida fazendo isto, tomando chá, lendo um livro elitista qualquer *, num dia nublado, meio frio e antipático, se não fosse tão fragmentado o meu humor.

Também gosto de praia (uma vez ao ano), também gosto de assistir a um show (duas vezes ao ano), também gosto de ir ao cinema (1 vez por mês) e também gosto de me embriagar com derivados de gin (uma vez por semana). Mas eu gosto mesmo é de me analisar.

Conclusões prévias:

Tenho deslexia temporal e problemas com historicidade, o que me torna extremamente caótico em relação aos compromissos sociais, andamento de trabalhos artísticos, timing profissional e percepção da felicidade ou objetivo concluído no momento presente.

Mas me permite viver com um parelelismo absurdo de atividades criativas e intelectuais diferentes, complexas e, em alguns casos, incoerentes, simultaneamente, em diversos níveis de profundidade e áreas de atuação.

Soluções prévias:

Tentar ter o maior número de momentos de bem-estar possíveis, quer sendo fazendo música, ou moda, ou instalação, ou porra nenhuma, ou sexo, ou yoga. O sucesso é algo questionável, e a conclusão de objetivos práticos impossível, uma vez que não há objetivos práticos na minha vida. Tirando este.

Faça você também a sua auto-análise hoje, e poste aqui.

* Livros que estou lendo simultaneamente que recomendo:

- Biografia do Duchamp da Ed. Coisac Naif (capa bucólica sob desenhos, inconfundível)

- Artigos da Revista Acadêmica de Moda Fashion Theory, em especial um que fala sobre a Moda nos regismes socialistas.
. BARTLETT, Djurdja Deixe-os usar bege: o mundo pequeno-burguês do vestuário socialista oficial IN Fashion Theory - A Revista da Moda, Corpo e Cultura edição brasileira Volume 3, número 2 Junho 2004 / ed. Anhembi Morumbi

- Qualquer Harry Porter edição britânica.

- Sonhos de Einstein, um livro incrível sobre devaneios em prosa sobre o tempo. Leio ele pela quarta ou quinta vez.
. LIGHTMAN, Alan. Sonhos de Einstein. São Paulo: Companhia das Letras. 2001

sexta-feira, julho 06, 2007

Nota Fiscal: Já comprou a sua hoje?


Manchete de jornal: Final Feliz de Sequestro na Grande São Paulo.


Depois de 8 dias de cativeiro, a sra. Nota Fiscal (2 meses atrasada) é entregue a Agência de Inteligência do Governo Federal (GINGA) com um misterioso bilhete: da próxima vez, eu venho acompanhada de um pedaçode bolo.


Os técnicos da polícia científica acreditam se tratar de mais uma dasameaças non-sense do Clã das Adegas da Viradouro (Escola de SambaTerrorista Nipo-Palestina) que vem espalhando terror com suas malditas batucadas extraídas de rituais satânicos em ilhas do Pacífico. Eles ainda especulam envolvimento da quadrilha com os shows do bonde dorolê, do Balé Quebra Nozes & Tati Quebra Barraco, Dj Malboro Light &Malboro Vermelhão e , é claro, Little Super Star e Weng Weng ***.


*** confira suas performances criminosas no you tube






O resgate foi pago pela Advogada da família Fiscal, Dra. P. S. S., eas negociações foram mediadas pela Agente Secreta S. R. S. Nenhumadelas quiz declarar seu nome.


Da Redação, Dudu Tsuda

quinta-feira, julho 05, 2007

Ruído 5.1 trata consumismo como um vírus anestesiante

Por Helena Katz - Publicado no Estadão 04/07/2007

Dramaturgia de Adriana Grecchi e do Núcleo Artérias atinge agora outro patamar
A metáfora é boa. Colocando no título de seu novo trabalho um dos nomes técnicos do surround sound (5.1) - o som que envolve o ouvinte, por ser distribuído por todo o ambiente -, o Núcleo Artérias, dirigido por Adriana Grecchi, indica que é dessa situação de estarmos envolvidos que vai tratar. No caso, imersos na tempestade de apelos consumistas que pautam os tempos de hoje. O descartável como uma das características centrais da situação que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman chama de 'modernidade líquida' (2001). Ele descreve esse mundo onde vivemos como o lugar onde nada é feito para durar muito. Não apenas os objetos, as roupas, mas também as relações afetivas, e o próprio corpo - tudo surge para ser substituído por algo que é tido como equivalente na temporada seguinte.

O assédio desse modo de viver se dá de formas tão variadas, que não mais somos capazes de identificá-las. A importância de Ruído 5.1 começa justamente aí, ao fazer dessa situação tão relevante a sua questão. Propõe uma reflexão sobre qual seria o ruído capaz de quebrar a cadeia de freqüências na qual estamos mergulhados, a ponto de nem mais percebermos o que está em curso.

Ruído 5.1 acerta ao tratar o consumismo como um vírus de poder anestesiante. Os principais ambientes visitados são aqueles onde o corpo-coisa fica mais visível: a publicidade e a moda, e neles aborda os tratamentos que são dados a temas variados, da sexualidade à competição.

Tudo começa com o elenco vestido de branco, no que parece, à primeira vista, um figurino típico de dança contemporânea. Só mais adiante, quando todos vestem uma calça jeans - um dos princiais emblemas da relação roupa-situação social - é que somos capazes de reler o primeiro figurino como roupa íntima. Detalhe importante a ser destacado: o figurino não é somente dos quatro dançarinos (Eros Valério, Lua Tatit, Ricardo Rodrigues e Tatiana Melitello), mas também dos responsáveis pelas excelentes trilha sonora (Dudu Tsuda) e videocriação (Rodrigo Gontijo). Todos estão em cena todo o tempo, formando um coletivo integrado, no qual as intervenções em vídeo e as sonoras também discutem, nos seus suportes específicos, as mesmas questões que se passam no corpo.

Oportuno, Ruído 5.1 se constitui como um risco para quem dele participa. Como fazer o mesmo corpo que foi treinado a oferecer as suas habilidades na forma de um produto para deliciar a platéia, ser capaz de uma atuação capaz de criticar exatamente tal hábito? Afinal, estamos todos acostumados a entender que a compra do ingresso representa a compra do direto à satisfação. Pago o ingresso e o artista deve me entregar, nesse caso, uma dança para ser consumida sem problema.

A dramaturgia que Adriana Grecchi e o Núcleo Artérias vêm desenvolvendo atinge agora outro patamar. Além de uma ligação mais fluida entre as cenas, o corpo ganhou uma proeminência muito bem-vinda. Mais que a própria movimentação, é o jeito como ela é mostrada que conta. Tarefa das mais difíceis, pois, a todo momento, a crítica ao consumismo corre o risco de se transformar no reforço desse mesmo consumismo. O uso dos objetos também se transformou. Em alguns momentos, os corpos e as caixas parecem se equivaler: corpos lidam com os outros corpos como se eles também fossem objetos-caixas. Quando isso se dá, evidencia os outros momentos, ainda frágeis no modo de distinguir crítica e endosso do consumismo.

Trata-se de uma proposta que não se esgota somente nesta versão atual, sendo rica e instigante o suficiente para se desdobrar em outras obras. Afinal, consumismo e 'vida líquida' são assuntos de tal complexidade que estimulam e necessitam de muitas outras abordagens.